
- Eu quero me matar.(silêncio) Eu estou apaixonada.
- Você quer se matar porque está apaixonada?
- Acho que sim.
- Mas você só tem dezesseis anos.
- E o que que tem? Não sei quem foi que disse que a gente devia se matar na adolescência, quando as coisas ainda são bonitas.
- As coisas não são bonitas?
- Não. Odeio cada pedra desta cidade. Cada porta. Cada casa. Cada cara que passa por mim na rua. Odeio, odeio.
- Mas não se mate.(silêncio) Por favor.
- Por favor o quê?
- Não se mate.
- Ah, esquece. O sol está indo embora. Só falta um terço dele.
- Ninguém se mata por amor.
- Agora só tem uma lasquinha dele, bem vermelha.
- Olha, uma vez eu li um cara, um escritor chamado Cesare Pavese, que dizia assim: "Ninguém se suicida por amor. Suicida-se porque o amor, não importa qual seja, nos revela na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado desarmado, no nosso nada".
- E o que aconteceu com ele, esse tal Cesare?
- Se matou. (silêncio)
- Pronto. Foi-se. O que era mesmo que você estava dizendo?
- Não importa. (silêncio)
(...)
- Eu vou começar a gritar. (silêncio)
Caio F. Abreu
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